Isto parece tão simples; e, como um princípio, é bastante simples.
Mas, na prática, nós, pecadores, somos inclinados a confiar nos meios e
não em Deus. Faço planos freqüentemente e percebo que meu entusiasmo
cresce ou diminui, à medida que os planos são perspicazes ou
não. Isto é confiar em planos e não em Deus. Sem dúvida, Ele deseja que
utilizemos meios para realizar a sua obra. Todavia, é evidente que Deus
não deseja que confiemos nestes meios. “O cavalo prepara-se para o dia
da batalha, mas a vitória vem do Senhor” (Pv 21.31). Portanto, nossa
confiança deve estar no Senhor e não em cavalos. “Uns confiam em carros,
outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do Senhor,
nosso Deus” (Sl 20.7).
A vida de George Müller foi dedicada a comprovar esta verdade. Em
certa ocasião, ele explicou como esta verdade se relaciona à nossa
vocação. Devemos trabalhar para obter nosso sustento e suprir nossas
necessidades. No entanto, não devemos confiar em nosso trabalho, e sim
em Deus; pois, do contrário, sempre estaremos ansiosos pelo fato de que
nossas necessidades não serão satisfeitas, se não pudermos trabalhar.
Entretanto, se estamos confiando em Deus, não em nosso trabalho, e se
Ele ordenar que percamos nosso trabalho, podemos estar certos de que
Deus satisfará nossas necessidades; assim, não precisaremos ficar
ansiosos. Eis a maneira como Müller apresentou o assunto:
Por que estou realizando este trabalho? Por que estou envolvido neste
negócio ou nesta carreira? Em muitas instâncias, no que diz respeito à
minha experiência, que reuni no ministério entre os crentes, durante os
últimos 21 anos, creio que a resposta seria: “Estou envolvido em minha
vocação terrena para que tenha meios de conseguir as coisas necessárias
da vida, para mim e minha família”. No que se refere à vocação terrena
dos filhos de Deus, este é o principal erro do qual resultam quase todos
os demais erros nutridos por eles — não é bíblico nem correto estar
envolvido em um negócio, uma profissão, uma vocação apenas para ter
meios de conseguir as coisas necessárias à vida, pessoal e familiar.
Mas, devemos trabalhar, porque é a vontade de Deus para nós. Isto é
evidente das seguintes passagens bíblicas: 1 Tessalonicenses 4.11-12, 2
Tessalonicenses 3.10-12 e Efésios 4.28.
É verdade que o Senhor provê as necessidades da vida por intermédio
de nossa vocação secular. No entanto, esta não é a razão por que devemos
trabalhar; isto é bastante claro da seguinte consideração: se o
possuirmos as coisas necessárias à vida dependesse de nossa capacidade
de trabalhar, nunca ficaríamos livres de ansiedade, pois sempre teríamos
de perguntar a nós mesmos: “O que farei quando estiver velho e não
puder mais trabalhar? Ou quando, por causa de enfermidade, for incapaz
de ganhar o pão de cada dia?” No entanto, se, por outro lado, estamos
envolvidos em nossa vocação terrena, porque é a vontade de Deus que
trabalhemos e que, fazendo isso, sejamos capazes de suprir nossas
necessidades e de nossos queridos, bem como ajudar os fracos, os
doentes, os idosos, os necessitados; assim, temos um motivo excelente e
bíblico para dizermos: “Se agradar ao Senhor colocar-me na cama, por
causa de enfermidade, ou impedir-me, por causa de doença, idade avançada
ou falta de emprego, de obter o meu pão de cada dia, por meio do
trabalho de minhas mãos, meus negócios ou minha profissão, Ele mesmo
providenciará o necessário para mim”. (Uma Narrativa de Algumas das Realizações do Senhor para com George Müller — vol. 1, escrito por ele mesmo; Muskegon, Michigan, Dust and Ashes Publications.)
Esta verdade se aplica não somente à nossa vocação secular, mas a
todas as áreas de nossa vida. Momento após momento, usamos meios para
manter nossa vida e realizar os propósitos de Deus (comida, telefone,
casa, remédios, carro, pedreiros, médicos, etc.). Temos de aprender a
lição de não confiar nestas coisas, quando as usamos, e sim confiar em
Deus. Isto se aplica também ao planejamento para a nossa igreja. Fazemos
planos. Elaboramos orçamentos. Ensinamos e aconselhamos. A tentação
permanente é a de confiarmos nestas coisas e não em Deus, para agir com,
por intermédio de ou sem estas coisas. Portanto, enquanto sonhamos a
respeito de missões e de nosso ministério, utilizemos meios, mas
confiemos em Deus. As promessas dEle são as únicas coisas seguras. Todos
os nossos meios são falíveis.
George Müller resumiu assim este princípio:
Este é um dos grandes segredos relacionados ao serviço bem- sucedido
para o Senhor — trabalhar como se todas as coisas dependessem de nossa
diligência, mas, apesar disso, não depender do menor de nossos esforços, e sim das bênçãos do Senhor” (Narrativa, vol. 2, p. 290).
Ou, conforme a Bíblia o diz: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o
realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.12-13). E conforme Paulo
também declara: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça,
que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do
que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co
15.10).
Que o Senhor nos conceda estarmos livres de toda ansiedade, enquanto
confiamos nEle, em vez de confiarmos nos meios que utilizamos.
Fonte: Desiring God / Editora Fiel / John Piper
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